quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O que o amor, carinho e paciência foram capazes de fazer


Hoje é o dia de São Francisco de Assis, protetor dos animais, e eu gostaria de agradecer. Mas não ao santo, mas a todos nós, amigos e família que operaram uma mudança neste carinha aqui:




Há um pouco mais de um ano tiramos da rua o Pafúncio. Sujo, faminto, com sede, pulgas e dormindo na rua como milhares de cachorros pela cidade.
Mas tinha algo mais nele... e que não era bom. Ele era muito agressivo com quem chegava perto, se encolhia num canto e rosnava. Mordia mesmo. Mordeu pessoas na rua, mesmo as que davam comida para ele. Se enfiou num canto sem teto e não saía de lá por nada. Era inverno e aquela chuvinha fina e gelada caía todos os dias.
A primeira vez que o vi estava dentro do salão de cabeleireiro aqui da rua. Também foi a primeira vez que me batizou com uma mordida! A mulher de lá me perguntou se eu não queria ficar com ele, disse que não podia pois já tinha as duas comigo. Disse a ela que a ajudaria a achar o dono ou uma casa nova, mas ela não esperou. Dizendo que não podia ficar com ele lá no salão, o colocou de volta na rua e ele ficou por lá, durante mais de uma semana dormindo na porta do salão. Era péssimo passar por lá e vê-lo encolhido.
Certa tarde, meus pais o viram e resolveram pegá-lo. Foi um alivio, até descobrirmos o lado violento dele. Nos mordeu a todos: minha mãe (que ficou com uma cicatriz no pé), meu pai, Guily, Guga, meu primo Bruno, Fernanda... muitas pessoas. Começamos a reparar que ele ficava muito doido quando alguém se abraçava, mexia em portas ou se movia muito rápido.
Não sabíamos o que fazer por que as pessoas começavam a ficar com medo de entrar em casa e rolava uma super manobra de tirá-lo de casa toda vez que entravam ou saiam daqui. Chegamos a pensar que não tinha jeito... que ele seria assim para o resto da vida e teríamos que achar um jeito de conviver com isso por que não éramos capazes de jogá-lo na rua.
Tínhamos certeza de que ele passou muito tempo na rua realmente assustado com tudo, com medo. Ele tem os caninos inferiores quebrados ao meio, claramente um sinal de abuso. Pensávamos sempre que ele deveria sofrer com espancamentos.
Aos poucos, fomos aprendendo a lidar com o “Taz” e driblamos, por um certo tempo, os ataques horríveis que tinha. Evitávamos nos abraçar ou sair de casa com ele por perto. E ele nunca chegava perto da Paçoca e Mione. O tempo foi passando e comecei a levar ele e as duas para passearem juntos. Ele sempre andava sem coleira por que eu não me atrevia a tentar colocá-la, já que a segunda vez que ele me mordeu foi numa tentativa assim (e foi a pior, tenho uma cicatriz na mão direita por causa daquela mordida). Durante os passeios nunca houve estranhamento dele com elas ou vice-versa.
E o tempo foi passando... íamos lá na frente ficar com ele quando começava a chorar ou latir, íamos sempre sozinhos por que duas pessoas o deixava nervoso. Depois de um tempo ele começou a ficar muito inquieto na garagem e descobrimos que a edícula era seu lugar favorito! Se dirigia para lá e deitava nos lençóis velhos e dormia um sono que era claro que há muito tempo não tinha.
E esse foi um marco por que o comportamento dele começou a mudar mais rapidamente.
Durante alguns momentos ele podia entrar em casa, mas ainda tinha ataques e logo era colocado para fora.
E tanto tempo depois temos outro cachorro aqui em casa: amado e querido. Um cachorro que gosta de carinho na barriga, gosta de um cantinho especial debaixo de uma mesinha e tem sua própria almofada na sala! Quando ele se senta, levanta uma das patinhas pedindo carinho e fica todo feliz chacoalhando loucamente o toco de rabo quando qualquer pessoa chega. Gosta de brincar de bola, gosta do ossinho no café da manhã (mas não do muito duro!), gosta da sua cama lá fora e de correr quando eu tiro a coleira dele no passeio, gosta de banana e é louco por um pedaço de maçã! Ele sabe onde mora e o caminho para se achar pelas ruas daqui de perto, é obediente, espera sempre autorização para atravessar a rua e reclama um pouco quando está com coceira, mas logo se joga de costas no chão e se revira até o comichão passar! Um cachorro que deixou para trás medo, fome, frio, violência e veio nos ensinar a ter fé, paciência, mesmo quando já não temos mais.
Ele não morde mais.
Queria dizer a todas as pessoas que ajudaram nessa transformação que eu tenho muito orgulho de nós e do que fizemos por ele! Temos mais um na família... uma família forte, unida, até mesmo discordando... sou um homem de sorte... e o Pafúncio é um cachorro de sorte...

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